Relato deveras ilustrativo e quiçá pormenorizado de uma estadia de exactamente 9 meses, 16 dias, 6 horas, 56 minutos e um número sem dúvida interessante de segundos e seus submúltiplos nos arredores da bela cidade de Platteville do 30º estado dos pequenos e nada importantes para a economia mundial Estados Unidos da América - Wisconsin - com recurso às mais diversas ferramentas de informação, comunicação e tal, de modo a transmitir, informar acerca de, comunicar, contar, dar a conhecer (e outros sinónimos destes últimos), da melhor forma possível e sem cometer falácias que prejudiquem a inteligibilidade do texto, as peripécias de um jovem português exilado num programa de intercâmbio cultural.

ou (traduzido por miúdos)

Coiso.

ou ainda (traduzido por miudinhos mesmo mesmo piquenos)

O meu (espantástico) ano nos EUA!!


domingo, 18 de março de 2012

Ele há coisas que fassabor...

Bom, exactamente uns meses depois da última vez, regresso com mais novidades da cidade mais movimentada que o mundo já conheceu - Platteville (e olhem que o tipo conhece muita gente). Com cerca de 11 mil habitantes, esta povoação espanta até o viajante mais...viajado. Faz-se de tudo - seja ele dormir e comer ou ainda descansar e saciar a fome. Por vezes os mais ousados chegam a ingressar nas actividades de repousar e deglutir alimento...mas isso já é outra classe de pessoal...inclusivamente visto com desprezo pelo típico cidadão americano.

Não, mas agora a sério. Platteville, sendo pequena e insignificante, tem mais para um jovem de 17 anos do que a comum aldeia portuguesa onde cultivar batatas e falar com o dono do café acerca da namorada do Cristiano Reinaldo são basicamente as únicas opções. Inclusivamente, e voltando a Dezembro (onde ficou congelada a minha vida neste blog - perceberam a piadinha? "congelada"? tão engraçado...), última semaninha de aulas, e houve Spirit Week que significa que vai tudo dressed-up para a escola. Bonito...! Então um dos dias foi Candy Cane day (tudo encarnado e branco), outro foi Winter Day (gloves, hats, mittens), outro ainda Ugly Sweater Day (claramente o meu favorito....e era tan fêa...) e finalmente para o último dia, Comfy Warm Clothes Day...ninguém fez nada o dia todo, obviamente...tão quentinho, tão quentinho...

E (FINALMENTE), Winter Break. Sim, não há férias de Natal...que pode ser ofensivo...sinceramente, whatever. Se não houvesse Natal também não havia as férias, portanto se não querem que se chama férias de Natal porque não acreditam e pode ser ofensivo, não façam férias e continuem a trabalhar...olha que esta...bom...e para começar as férias como deve ser, fui com o Mateo, o Alemão (mais conhecido por Mathieu) e duas Amaricanas (Courtney e Alicia) ao centro comercial da capital do estado - Madison. Foi há tanto tempo que eu já não faço ideia o que é que se fez lá...só sei que recebi um pin a dizer "That's what she said", deixei o meu casaco de Inverno no carro da Courtney que foi no dia seguinte para o Tenessee e que a viagem foi todo o tempo a falar de...de...you know...de.

Nessa noite houve Pizza Hut porque o Jon queria celebrar o fim dos seus exames e depois houve filmes ( e claro, que tivémos que gozar com o Mateo porque ainda há-de chegar o dia em que ele não adormece num filme) e no dia seguinte seria Véspera de Natal. Já cá estavam o irmão e a mãe da Juanita (a minha host-cunhada) e recebi um presentinho mesmo gostoso deles - um pacotinho de doce de leite....hmmm...

O Natal foi coisa macaca...não, estou só no gozo...mas não foi assim nada de extraordinário. A única pessoa que estava cá e que cá não costuma estar, para além dos colombianos, era o Joshua, visto que todas as manas celebraram o seu próprio Natal nas suas residências com amigos ou outras partes da famelga. Lá se comeu o belo do fiambre e outros manjares de que, para dizer a verdade, já não se me recorda, cantaram-se músicas de Natal com o Josh ao piano e depois abriram-se os presentes – há que tempos que não me sentia tão “capanino” (grande Duarte Stock). Recebi luvas de neve, dois pares de meias quentinhas, uma caneta, jolly ranchers (uns rebuçadinhos gostosos), um relógio de cólidade (e mais um, mais tarde, dos meus adorados paizinhos), uma meia de pôr à lareira (como nos filmes…! Com o meu nome, notas de música, uma bola de basket, etc.) e ainda um cheque presente para o aluguer de skis num campo para aonde havíamos de ir dia 26 (de Dezembro). Eu não dei nada a ninguém. A sério. È que a encomenda de Portugal com presentes para todos só chegou quase um mês mais tarde…fail…bom, bom foi que nela vinha um livro de receitas portuguesas em inglês, de modo que agora já não tenho que ser a cozinhar comida potuguesa (como antes acontecia a toda a hora, claramente). Na manhã seguinte e como não podia deixar de ser, a meia à lareira estava cheia de coisas boas…! Primeiro, e mais importante que tudo o resto, MARSHMALLOWS – só tipo a minha comida favorita de todos os tempos -, além disso recebi gomas de ursinhos, pastilhas, gillettes (lol) e ainda hand and toe warmers – para quando fosse fazer ski com quase 20º C abaixo de zero... – foi beautiful.

Dia de Natal ainda e que melhor para fazer que ir ao cinema…não fomos, mas eu por acaso teria gostado…diferente, huh? O resto do dia foi até um pouquinho boring mas olha…sempre se viu o jogo de futebol entre as duas equipas rivais que têm fãs em Platteville – Chicago Bears e Green Bay Packers. Depois disso foi fazer as malas para mais uma grande aventura… Camp Forest Springs (CFS)…! O tal campo de que vos falava antes.

Como sabem, e se não sabem agora vão passar a saber, o conceito de campo de férias nos EUA é muuuuito importante, especialmente no que toca à evangelização e há imensos campos ligados a diferentes denominações religiosas. Este campo, onde uma das minhas host sisters trabalha e onde além dos meus pais de acolhimento outros 4 membros da família conheceram os seus actuais cônjuges ou quase, é um campo sem qualquer filiação a nenhuma igreja mas com inclinação Protestante. Porém, isso não impediu que, como Católicos, o Mateo e eu fôssemos muito bem acolhidos…! A sugestão de irmos a este programa de Inverno chamado Wintertainment partiu da Joy e surgiu como uma maneira de nos pôr a fazer ski da maneira mais barata possível, sendo que lá teríamos aulas grátis.

Fomos para cima com o nosso irmão Josh que seria voluntário no campo (no café, parte importantíssima) e por um dia estivémos na casa da nossa irmã em Rib Lake, uma das aldeias à volta do dito CFS. Claro que na primeira manhã nessa adorada casa, às 6 da manhã, já tinha uma pirralha de 2 anos a saltar-me em cima e a gritar “Bucky, Bucky!”…Não me perguntem o porquê do nome porque não sei mas ela insiste em deixar claro que esse é o meu nome… “You bucky…” Yes m’am…

Bom, o Wintertainment foi de 27 a 31 e ao chegarmos lá tivémos a agradável surpresa de descobrir que na nossa cabana estavam pessoas mesmo muito porreiras. E depois, claro que toda a gente conhece os Tarp… O campo funciona de maneira que cada cabana tem um Counselor que está responsável por nós mas que só “interesse” à noite quando voltamos – o dia é nosso. Além do ski – que aprendi e é brutalíssimo; e se não fosse alguns de vocês serem verdadeiramente bons à coisa, eu até me apelidaria de bastante espectacular haha – havia actividades como o Razzleblast (futebol para os rapazes e futebol americano para as raparigas no mesmo jogo), Dodgeball (tipo o Mata mas com dezenas e dezenas de pessoas), actividades de teatro e improv (com coisas do género, duas pessoas estão a fazer uma cena e de repente alguém diz “Stop” e vai trocar com uma delas e faz qualquer coisa completamente diferente; foi aí que conheci umas das minhas grandes amigas do campo, Joelle, cujos pais são missionários no México, e que andou sempre connosco desde aí porque nós – especialmente o Mateo – éramos pessoas com quem ela podia falar espanhol), Broomball (hoquéi no gelo com umas coisas semelhantes a vassouras), patinagem, Tubing (descer colinas de neve em óias gigantes – brutalíssimo; e quanto mais pessoas  com as pernas entrelaçadas, mais rápido e melhor) e ainda Animal Ball – ao qual a minha família tem uma história gloriosa.  Claro que para manter  tradição, eu e o colombiano tínhamos que jogar Animal Ball que é basicamente hoquéi no gelo mas com as mãos e não se pode agarrar a bola, tem que estar sempre a saltitar nas nossas mãos ou das nossas para as dos outros, portanto o pessoal passa o tempo no chão a dar cabo dos joelhos. O problema é que obviamente não sabíamos jogar e na equipa que formámos (em que havia pelo menos uma miúda apaixonada pelo Mateo…mas olha o que é que se há-de fazer…deve ser do bronze…) só havia um ou dois que já alguma vez tinham jogado (sendo que um deles é nosso host primo…! História engraçada visto que o James é super famoso no campo e quando nós vimos aquele rapaz mais escurinho, que depois soubémos se chama Michael e é filho de pai filipino, a dizer que é primo do James, dissémos um para o outro “pois, pois, claro…hahaha”…depois de muito conversar descobrimos que não – ele não era uma fraude…ups…). Ainda assim, ganhámos os dois primeiros jogos e só perdemos contra a equipa que depois foi à final contra os monitores.

Mas num campo religioso claro que parece faltar qualquer coisa…e falta. Todas as manhãs e fins-de-tarde tínhamos sessões em que um guest speaker (Dave Creek) falava acerca de um tema relacionado com uma passgem da Bíblia que ele tinha dividido por cada dia. Ora este senhor era espectacular… Com técnicas de chamar a atenção incríveis e histórias que só não cativam quem não está lá, fartávamo-nos de rir…só me lembro dele a dizer “And then the water just flowed around it and I was like ‘What are you? Moses or something…?’”…e nem posso explicar…bom, a verdade é que tudo isto tinha sempre algum resultado final, maior, e ensinava lições que marcaram…e não iam  de modo algum contra o Catolicismo…é mesmo bom ter esta perspectiva da bigger picture da Cristandade…e depois na cabana à noite, o counselor falava sempre connosco e respondia a perguntas e…estou mesmo satisfeito por ter ido, até porque ele era muito sincero e respondia a tudo, mesmo que fosse estranho. No final das sessões havia sempre música e isso era outro momento lindo, profundo e de proximidade com Deus. Aqui fica um exemplo de uma: http://www.youtube.com/watch?v=-08YZF87OBQ

No final do campo, e depois de eu já quase fazer slalom no ski…coff, coff…houve um campeonato de isso mesmo – Slalom – e outro de saltos, ambos giríssimos. Ah e claro que no ano passado o James ganhou os dois…show-off…(este ano já não pôde ir porque aquilo é 9-12th grades). Houve também uma Coffee House que é uma espécie de concerto informal onde há café e sobremesas disponíveis e onde nos podíamos inscrever para cantar o actuar de outro modo (eu só tentei inscrever-me tarde de mais). Além dos habituais desastres dos quais não se pode dizer nada, ainda por cima num campo cristão e tal, houve números hilariantes dos monitores em slow motion e um rap espectacular de um dos rapazes da minha cabana…ainda me lembro do refrão “Real life, real things. Real angels, real wings. We all hope for the best so we sing Hallelujah, Hallelujah” e ainda um jogo (trivia) de adivinhar séries e filmes pelas suas músicas.

Foi deveras espectacular e apesar dos vários graus negativos e da grandessíssima ideia de ir descalço desde o auditório até à cabana, no meio da neve, na última noite , tudo foi óptimo. Até aprendi pickup lines novas para a minha colecção e descobri a palavra tweeterpated…que se quiserem podem ir ver ao dicionário o que significa…mas eu digo-vos o contexto…havia este rapaz na nossa cabana que se “apaixonou” por uma rapariga do campo..e bom, o homem estava maluco…acontece que a miúda era muito…aaah…digamos…especial…bom, foi lindo…só rir…última noite e tudo já mais para lá que para cá e até houve alguém que lhe disse “Shut up and talk”…inspiradíssimo…

No dia da partida, houve muita gente a chorar…12th graders, último ano comp participantes e muitas memórias…eu por mim gostei imenso e até comprei uma camisola amarela fluorescente a dizer CFS só para nunca me esquecer, até porque até aí se tinham esquecido de nos fazer pagar e seria chato ir embora sem deixar um bocadinho de papel…haha, só a a brincar, não se assustem ;).  Também recebemos uma CD de fotografias, vídeos e com todas as sessões e foi mesmo boa ideia eu usar um casaco verde claro do James para skiar porque sei sempre onde apareço…! Antes da partida de volta a casa da nossa host sister, o Mateo e eu fomos convidados vaárias vezes a voltar como monitores mais tarde e, se depender de mim, voltarei com certeza.

Bom, mudando de assunto, era suposto eu e o meu irmão irmos passar a passagem de ano a Platteville e divertirmo-nos imenso mas…não arranjámos boleia para baixo – conclusão: ficámos entalados com os três míudos em casa da minha irmã Julie e com mais o Jon, a Juanita e a família colombiana dela… A passagem de ano foi bastante terrível…vimos pela televisão a festa em NYC e algumas das pessoas até foram para a cama antes da meia-noite…quanto a nós, e sem mais hipóteses, pusémo-nos em cima de cadeiras a pedir desejos e corremos à volta da casa como mandam as tradições portuguesa e colombiana, respectivamente.

Finalmente acabei o ano de 2011. Tenho mais dois meses e meio para escrever. Não se preocupem que serei mais breve nos próximos posts e desculpem lá pelos erros mas nem há tempo para rever…

"Ano Novo, Vida Nova". Veremos...

Beijinhos e abraços e…it’s the final countdown… J mas também L